terça-feira, 25 de agosto de 2015

Sair da Igreja Católica

Antes que alguém pense algo errado, não é a minha saída da Igreja, mas um rapaz me trouxe a informação de uma amiga dele (que passarei a chamar de Suzana) que deixou a Igreja Católica e foi para uma igreja evangélica, uma situação não tão incomum nos dias de hoje. Só pude dar uma resposta a ele: a culpa foi nossa.

Sim meus caros, a culpa é nossa mesmo. A saída de Suzana tem uma grande falha nossa, pois com certeza ela buscava algo mais palpável e imediato, e não conseguiu encontrar na Igreja. Essa falha é nossa, dos católicos, que não conseguimos ajudar. Do padre que talvez não vivencie a liturgia em todo seu mistério ou nas homilias fracas; dos paroquianos que devem viver a fé muito superficialmente; de nós que muitas vezes mais somos bravos nas palavras (mesmo que na defesa da fé) e não lembramos dos que precisam de ajuda nos primeiros passos.

Somos ávidos na defesa da vida, na defesa da liturgia, da família, pegamos estas causas com unhas e dentes e vamos à batalha. Causas justas e necessárias, não há dúvida disso, mas muitas vezes esquecemos daqueles que estão buscando a Deus, nos olham com esperança, e não falamos de quem deveria: Nosso Senhor Jesus Cristo, sua vida, morte e ressurreição, seu sacrifício por amor, sua misericórdia e até mesmo as suas palavras duras.

Muitos estão buscando sentir a fé, aquilo quase que físico (e muitas vezes chega a ser físico mesmo). Bom, eu já fui da Renovação Carismática Católica e vi muito disso (inclusive comigo), esse negócio do sentir, sei bem como é. Mudei depois que fui buscar mais, fui além do superficial, e no estudo da liturgia tudo mudou. Tive quem ajudasse a entender o essencial: não é letra pela letra, é letra pelo sentido e mistério divino.

São Tomé diante do Cristo Ressuscitado
Infelizmente existe uma mentalidade muito secularizada dentro da Igreja, em especial de pessoas "práticas" que querem o resultado imediato. Se perdeu o espanto diante do Sagrado, aquele semelhante ao que fez São Tomé reconhecer o Cristo e dizer "meu Senhor e meu Deus", até porque fazem cada vez mais força para tornar o Sagrado como ordinário. 

Olham para a Igreja pelo seu caráter material e esquecem a sua condição espiritual. Olham para a eleição do Papa como um jogo de cartas e interesses, e esquecem a atuação do Espírito Santo no escrutínio. Olham para a Eucaristia e enxergam apenas um pequeno pedaço de pão, e esquecem a presença real de Cristo.

O que buscam sentir a fé querem a sensação física da fé, que pode ser o peito aquecido em meio a uma oração, as lágrimas que correm no rosto de emoção, a música comovente, as palavras de conforto. E muitos encontram isso e ficam apenas nisso, porque é o que basta naquele momento.

E aqueles que buscam e não encontram ficam decepcionados e saem. O que faltou? Ora, faltou a minha ação, o meu auxílio. Como posso eu esperar que a pessoa tenha uma verdadeira experiência pessoal com Deus sem o devido auxílio?

É verdade que toda a informação está aí, "a um click de distância", é só colocar no Google e achar. No entanto, se pegarmos o exemplo de São Paulo, este primeiro teve o encontro com Cristo e depois aprofundou-se na fé cristã. O quero dizer é que a informação que é necessária somente vai ter resultado quando o coração estiver preparado, e isto somente vai ocorrer quando o homem passar pela experiência religiosa, que muitas vezes passa pela oração.

O Papa Bento XVI falou assim:
"Na experiência da oração, a criatura humana exprime toda a consciência de si, tudo o que consegue captar da própria existência e, ao mesmo tempo, dirige-se inteiramente para o Ser diante do qual se encontra, orienta a própria alma para aquele Mistério do qual espera o cumprimento dos desejos mais profundos e a ajuda para superar a indigência da própria vida. Neste olhar para o Outro, neste dirigir-se «para além» está a essência da oração, como experiência de uma realidade que supera o sensível e o contingente."
Nós, católicos já firmes na fé, que passamos e fomos (e estamos sendo cada vez mais) moldados por esta experiência religiosa da oração, temos o dever de estender a nossa mão e auxiliar aqueles que necessitam, levá-los a esta experiência religiosas e ir além, pois evangelizar não é apenas pegar uma causa e sair defendendo, mas antes disso é anunciar o Cristo, em sua plenitude.

Como fazer com que as pessoas não saiam da Igreja Católica? Apresentando os grandes mistérios da fé e essa apresentação deve ser feita não como se fosse uma aula expositiva, mas pelo testemunho de fé e vivência, que se expressa no brilho do olhar quando se fala no assunto, ou na forma como se age dentro do templo, na Missa, na adoração ao Santíssimo Sacramento, ou seja, em um testemunho de vida que comove, que toca as pessoas, ser o sal da terra e colocar nos outros o desejo de querer mais. Claro que não devemos fazer isso por essa intenção, mas deveria ser algo natural, fruto da nossa experiência com Deus.

Devemos ser semelhante a São Padre Pio de Pietrelcina, que pelo seu testemunho arrastava as pessoas. Devemos ser semelhante a Madre Teresa de Calcutá, que pelo testemunho constrangia as pessoas em envolta. Devemos ser semelhantes ao Padre Michel Marie Zanotti Sorkine, que com "pequenas" coisas consegue mostrar o valor e mistérios da fé católica. Devemos se semelhantes a tantos (mas ainda em número insuficiente) padres e leigos que conseguem com autoridade expressar esse relacionamento com Deus de forma a atrair os demais à viver a fé católica.

Por que Suzana, citada lá no começo do texto, saiu? Porque ela não conseguiu ver tudo isso e a culpa foi nossa que não mostramos. Sei que muitos vão falar que não conhecem Suzana, que não são nem da mesma diocese que ela, mas com certeza existem tantas outras Suzanas que deixaram a Igreja pelo mesmo motivo, ou ainda, que vivem a fé de forma superficial.

Cabe a cada um de nós refletir sobre nosso papel nesse caso ... bom, eu estou refletindo sobre o meu.
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Fica autorizada a reprodução integral deste post, desde que citada a fonte conforme texto a seguir:
BRANDALISE, André Luiz de Oliveira, Sair da Igreja Católica, publicado em 25/08/15 no site “André Brandalise” - http://www.alobrandalise.com/2015/08/sair-da-igreja-catolica.html

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