segunda-feira, 18 de março de 2013

Um novo Papa


Este é o assunto do momento: a eleição do Papa Francisco, a escolha do Cardeal Jorge Mario Bergoglio para assumir o cargo mais alto dentro da Igreja Católica. E diante disso muitos estão emitindo suas opiniões, sejam contrárias ou a favor do resultado do conclave. Bom, resolvi dar minhas impressões também.

Antes de tudo devo dizer que sou mais um daqueles da "Geração João Paulo II", pois foi no pontificado dele que retornei ao seio da Santa Igreja Católica. Não posso dizer que foi por influência dele, pois seria uma grande mentira minha, já que a maior parte do pontificado de João Paulo II eu me colocava como contrário à Igreja e ao Papa. Não me interessava o ele dizia, para mim estava errado. Graças a Deus eu mudei.

Neste momento eu vejo que é importante analisar não apenas o novo Papa, mas na minha cabeça (que talvez não funcione lá muito bem) existe um movimento que se iniciou desde o pontificado do Papa João XXIII - antes que alguém diga que vou aqui enaltecer o Concílio Vaticano II como a melhor coisa do mundo depois do pão fatiado, pode esquecer ... leia o texto até o final e tire suas conclusões -. Vou tentar mostrar isso da maneira mais simples e didática possível.

Muitos olham para o Papa João XXIII como se ele "apenas" tivesse convocado o Concílio Vaticano II, como se não tivesse feito mais nada, mas ele também tratou da questão social sob a luz da doutrina cristã (Encíclica Mater et Magistra) e da paz de todos os povos (Encíclica Pacem in Terris). Sempre demonstrou grande preocupação de como poderia a Igreja atender as necessidades do povo sendo Igreja, e isso apenas em aspectos pastorais. Mesmo sem abrir brecha para mudanças dogmáticas ou doutrinárias, estabeleceu uma abertura diplomática com outra religiões (e estamos vendo muitos frutos hoje em dia - basta ver os anglicanos voltando ao catolicismo). Ou seja, não foi "apenas" o papa do CVII.

Seu sucessor pegou a "batata assando". O Papa Paulo VI não só assumiu o comando da Igreja, como foi o responsável para dar continuidade ao CVII. Claro que não fez só isso, pois além de manter a mesma linha do Papa João XXIII (relação com as demais religiões e preocupação sobre a questão social e política no mundo - vide Encíclica Populorum Progressio), enfrentou de cara aberta a questão do controle de natalidade com a belíssima Encíclica Humanae Vitae e reafirmou o celibato como fundamental para a vivência plena da vocação sacerdotal (Encíclica Sacerdotalis Caelibatus). 

Neste dois casos já vimos uma uma grande ação de Deus na Igreja. A importância de ambos é algo que não podemos medir, até porque devemos lembrar que não existem registros da imprensa como é o caso de seus sucessores.

Infelizmente não pudemos aproveitar tanto do Papa João Paulo I, mas o que dizer do Papa João Paulo II? Um Papa carismático, esportista, alegre, e que mostrou ao mundo que a Igreja Católica é viva. Mostrou ao mundo que é possível muda-lo com seu exemplo, com sorriso e com as palavras certas. Foi o Papa que trouxe muitos de volta à Igreja e que auxiliou na derrubada de governos totalitários como o da União Soviética. Também foi o Papa que mostrou com seu exemplo de vida que devemos seguir a Cristo até a morte. Foi o Papa que reaproximou os jovens para a Igreja. Falou sobre o bem mais precioso da Igreja, a Eucaristia (Encíclica Ecclesia de Eucharistia), e também sobre a relação entre fé e razão (Encíclica Fides et Ratio).

O interessante é que seu sucessor, o grande Papa Bento XVI, falava e escrevia sobre as mesmas coisas (inclusive sobre os temas polêmicos para a sociedade), mas acredito que em razão de sua simpatia, seu sorriso, e até mesmo sua doença, as pessoas não prestavam muita atenção no que dizia João Paulo II. Ficaram muitos presos na imagem do homem que beijava o chão que pisava, que esquiava, que levou um tiro e se recuperou, que sofreu com sua doença, e esqueceram de ouvir sua voz.

Já com o Papa Bento XVI muito se ouviu e reclamou, mas seu posicionamento firme sobre a fé católica, sua doutrina e tradição, foi essencial para a Igreja. João Paulo II atraiu muitos (em especial jovens), Bento XVI mostrou e defendeu a fé católica, além de apresentar uma das maiores riquezas da Igreja: a Sagrada Liturgia. Um não negou o outro, um não foi mais importante que o outro, ambos se completaram. Ninguém pode dizer que o Papa Bento XVI foi fraco, pois aguentou firme todas as provocações e acusações, mostrou a mundo que estar na Igreja não é apenas sorrir, levantar as mãos e dizer "sou católico", mas sim que temos que ter certeza da nossa fé, conhecer e nos aprofundar, e enfrentar todas as caras feias que são contra.

O Papa Bento XVI foi muito profundo em suas colocações, nos trazendo a necessidade e importância da vivência da fé, de forma especial na liturgia. Não foi à toa que muitos ficaram na Igreja, isso se deu pela firmeza do Papa, pelo seu testemunho.

Alguns dizem que Bento XVI foi fraco ao renunciar, mas vejo de forma diferente. Ele foi forte e corajoso, pois sabendo que teria quem pensasse assim, ele decidiu se sacrificar em nome da Igreja e do mundo. Fisicamente ele não estava mais aguentando, então seria o momento de alguém com mais vigor entrar. Isso não o faz menor que seus antecessores ou seu sucessor, pelo contrário, isso o faz tão grande como cada um deles. O Papa Bento XVI foi um maravilhoso referencial de fé e vivência desta por meio da liturgia. Seu exemplo e trabalho não pode ser descartado.

Então chegamos no novo Papa, no primeiro latino-americano, no primeiro jesuíta, no primeiro não-europeu depois de tantos anos e séculos. O Papa Francisco está há pouco tempo e já causou amor e ódio, e de todos os lados. Já ao mesmo tempo julgado e condenado por alguns, assim como outros acolheram e passaram a amar. Também é do sorriso fácil, simpático, divertido, mas quando fala transforma-se em um leão em defesa da fé. Seu histórico mostra que não tem medo da luta, e batalha pelo Evangelho, pela vivência da cruz, pelos necessitados. Tudo isso tendo como centro o Cristo.

Mostra em si um conjunto de tudo que seus antecessores citados mostraram, mas ao mesmo tempo ainda está se adaptando ao cargo. O Papa não poderá mais andar de metrô como fazia o Cardeal. O Papa não poderá mais ter aquela vida tão simples que levava o Cardeal. O Papa terá que assumir alguns aspectos de tradição dentro da Igreja, como forma de continuidade no poder petrino. Não se trata de colocar o leão em uma jaula, mas sim do leão acolher e assumir sua majestade e importância.

Vejo no Cardeal Bergoglio uma semelhança muito grande ao Bispo Bienvenu, personagem do livro Os Miseráveis, que viveu uma vida simples. O bispo se mudou para o hospital da cidade de pequeno porte, de modo que o palácio episcopal pudesse ser utilizado como hospital; mantinha apenas um décimo de seu salário para suas despesas pessoais, dando o resto de esmolas; ele uma vez acompanha um homem condenado ao cadafalso, depois que o padre da aldeia havia se recusado a faze-lo. De tudo que li e ouvi sobre o Cardeal Bergoglio, ele seria a versão moderna deste maravilhoso personagem de Victor Hugo.

Ao mesmo tempo vejo que as escolhas do Cardeal foram fruto de sua experiência com Deus, com o Evangelho e a própria doutrina da Igreja Católica. Vê-se nele fortemente a vivência e defesa da Doutrina Social da Igreja (olho para ele e me lembro da importantíssima Encíclica Rerum Novarum - leia sobre ela AQUI), a vivência da pobreza evangélica, a certeza da Cruz, o amor a Cristo e à Igreja. Trata-se de um Papa com um perfil mais apostólico que os demais, e como uma difícil missão pela frente.

Sim, existem grandes preocupações em relação à liturgia, o que eu e vários outros pensamos, mas não acredito que o Papa Francisco fará grandes mudanças. Ele mesmo reconhece o belo trabalho de resgate litúrgico realizado por seu antecessor, e não vai destruir isso.

Sim, eu tenho grandes esperanças no Papa Francisco, e acredito realmente que não me decepcionarei com ele.

Viva Cristo! Viva a Igreja! Viva o Papa! Viva o Papa Francisco!

2 comentários:

  1. Assino e rubrico aqui. O que está escrito acima concatena absolutamente com o que eu escreveria. Deus te abençoe, amigo!

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  2. Concordo.
    Papa Francisco é amada por alguns e odiado por outros, mas em ambos os casos pelas mesmas razões erradas. A mídia secular e os progressistas "amam-no" porque pensam que ele vai reformar (ou seria deformar) a Igreja. E pelo mesmo motivo odeiam-no os tradicionalistas.
    Penso que é só questão de tempo - uns 3 ou 4 meses - para caírem na real.
    Viva o Papa!!!

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