terça-feira, 3 de junho de 2014

As eleições da rejeição


Nos últimos dias tentei (talvez em vão) pedir que as pessoas apresentassem argumentos para votar nos pré-candidatos à presidência do Brasil, e o que vi foi uma grande dificuldade em apresentarem motivos para o voto por escolha de um nome e suas propostas.

Isso se deve a um grande problema de descrédito político que passa o país, em que não temos figuras politicas confiáveis ou que atraiam votos. Infelizmente (e isso tem várias formas de analisar) temos apenas um nome que atrai votos: Lula. Para mim tem duas principais situações que mostram como isso é ruim, sendo a primeira a pessoa em si, e segundo porque não tem mais ninguém.

Toda pesquisa de intenção de voto tem sempre duas análises, e pelo que vejo o que vai definir a eleição é a rejeição. Tenho alguns amigos que sempre se posicionaram favoráveis ao PT ou a seu governo, mas hoje não fazem campanha destacando os porque se deve votar na então PresidentE Dilma, pelo contrário, preferem atacar os seus adversários, tentando derrubar a imagem dos demais candidatos. Alguns já me confidenciaram que que não querem votar nela, mas diante das demais possibilidades de voto, preferem a manutenção do governo atual.

Do outro lado vi pouquíssimas pessoas se dizerem eleitores convictos de Aécio Neves, Eduardo Campos ou Everaldo Pereira, sendo que os demais que irão votar entre um destes fará a sua escolha baseado na opção "menos ruim" dentro de uma análise de conjuntura política-partidária-ideológica (este será meu caso). Ou seja, na oposição também não temos nomes que façam os eleitores votar em algum deles porque realmente deposita sua confiança em quaisquer destas pessoas.

O sistema político brasileiro está falido, corrompido e desacreditado. Muita gente prefere não falar sobre política, muito menos em pensar sobre o assunto, o que faz com que nada mude. Se a população exercesse seu voto de forma consciente, pensando em melhorias para o país, com certeza teríamos uma situação diferente, mas não é o caso. 

O ex-Presidente João Batista Figueiredo disse uma vez que "um povo que não sabe nem escovar os dentes não está preparado para votar" ... e hoje eu acrescento que a falta de opções políticas também nos impedem de votar bem, e isso é fruto de uma podridão que diariamente vemos nos noticiários, sejam eles encomendados ou não, mas que todos os dias nos mostram não existirem santos ou beatos neste sistema. 

O imperador romano Júlio César disse uma vez se referindo à Pompéia quando se divorciou dela: "À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta." Se atualizássemos a frase para hoje, seria algo como "ao político não basta ser honesto, deve parecer honesto".

Entramos no ciclo vicioso de votar em quem achamos que vai causar menos estragos, pois ninguém nos parece ser honesto o suficiente para merecer nossa confiança. Estava lendo o 4º livro da trilogia de 5 livros "O Guia do Mochileiro das Galáxias", de nome "Até mais e obrigado pelo peixes!", e mais ao final veio uma parte muito interessante que cabe bem nesta discussão.

Aparece-na Terra um alienígena que diz: "Eu venho em paz, levem-me ao seu lagarto." Diante disso os personagens (Ford Prefect e Arthur Dente) começam um diálogo assim:
– Ele vem de uma democracia muito antiga, sabe...

– Você está querendo dizer que ele vem de um mundo de lagartos?

– Não – respondeu Ford que, àquelas alturas, já estava um pouco mais racional e coerente do que antes, tendo finalmente sido forçado a tomar uma xícara de café -, nada tão trivial. Nada assim tipo isso tão compreensível. No mundo dele, as pessoas são pessoas. Os líderes é que são lagartos. As pessoas odeiam os lagartos e os lagartos governam as pessoas.

– Ué – comentou Arthur -, achei que você tinha tido que era uma democracia.

– Eu disse – afirmou Ford. – E é.

– Então – quis saber Arthur, torcendo para não soar ridiculamente estúpido -, por que as pessoas não se livram dos lagartos?

– Isso sinceramente nunca passou pela cabeça delas – disse Ford. – Como elas têm direito de voto, acabam supondo que o governo que elegeram é mais ou menos parecido com o governo que querem.

– Quer dizer que eles realmente votam nos lagartos?

– Ah, sim – disse Ford, dando de ombros -, é claro.
– Mas – perguntou Arthur, sem medo de ser feliz – por quê?

– Porque, se deixam de votar em um lagarto – explicou Ford -, o lagarto errado pode assumir o poder. Você tem gim?

– O quê?

– Eu perguntei – disse Ford, com um tom crescente de impaciência entranhando-se em sua voz – se você tem gim.

– Vou ver. Conte-me sobre os lagartos. 
Ford deu de ombros novamente.

– Algumas pessoas dizem que os lagartos são a melhor coisa que já lhes aconteceu – explicou ele. – Elas estão completamente enganadas, é claro, completa e absolutamente enganadas, mas é preciso que alguém tenha a coragem de dizer isso.
Até quando teremos que votar em lagartos?
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Fica autorizada a reprodução integral deste post, desde que citada a fonte conforme texto a seguir:
BRANDALISE, André Luiz de Oliveira, As eleições da rejeição, publicado em 03/06/14 no site “André Brandalise” - http://www.alobrandalise.com/2014/06/as-eleicoes-da-rejeicao.html

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