quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Aprenda com o Caminho Neocatecumenal

Recentemente as celebrações contidas no Diretório Catequético do Caminho Neocatecumenal foram aprovadas pela Santa Sé (se alguém não sabia disso, acho que agora passa a saber), e isso tem alguns significados importantes a serem destacados:

1. trata-se de um carisma único e autêntico;

2. é uma obra de inspiração divina, não do homem ou do demônio;

3. um instrumento de importância para a Igreja e o para o mundo.

O reconhecimento pontifício diz claramente que é uma obra de Deus (gostem as pessoas ou não). Sim, poderão dizer que esta aprovação não é perpétua e poderá ser retirada a qualquer momento como aconteceu com o movimento Sillon (na Carta Notre Charge Apostolique), mas até lá se trata de um carisma existente na Igreja e devemos respeitar.

Ok, só que não é bem esse lado da aprovação que quero destacar, mas sim algumas ponderações/ressalvas que o Papa Bento XVI fez durante a audiência em que se anunciou a aprovação. Seguem os trechos (texto integral AQUI ):

(...) Há pouco foi lido o decreto com que se aprovou as celebrações presentes no Diretório catequético dos neocatecumenais, que não são estritamente litúrgicas, mas fazem parte do itinerário de crescimento na fé. É mais um elemento que demonstra como a Igreja vos acompanha com atenção, em um paciente discernimento que compreende a vossa riqueza, mas protege também a comunhão e a harmonia de todo o Corpo de Cristo. (...)
(destaquei)

Aqui fica bem claro que a aprovação se deu apenas às celebrações que não são litúrgicas, ou seja, por exemplo, as chamadas “entregas” (do Credo, do Pai Nosso, etc.) que são momentos previstos no RICA (Rito de Iniciação Cristã dos Adultos).

Com isso cabe a pergunta: mas e as celebrações litúrgicas que o Caminho faz? Como fica???

Como muitos já sabem e alguns até já presenciaram, o Caminho Neocatecumenal tem por costume praticar certas coisas durante a Missa que não estão previstos nos Livros Litúrgicos, e isso gera muita discussão. Bom, o próprio decreto de aprovação responde o que se fazer quanto a isso, ao estabelecer que:

(...) consente a aprovação daquelas celebrações contidas no Diretório Catequético do Caminho Neocatecumenal que já não resultam por sua natureza regulamentados pelos livros litúrgicos da Igreja. (...)
(Destaquei)

Isso significa que as Cerimônias litúrgicas da Igreja, como a Santa Missa, devem ser realizadas segundo as normas estabelecidas pelos livros litúrgicos. Perdão, mas não há como se interpretar diferente. O que é litúrgico segue o que já está regulamentado.

E ainda prosseguiu o Papa:

(...) Mas toda celebração eucarística é uma ação do único Cristo, juntamente com a sua única Igreja e, por isso, é essencialmente aberta a todos quem pertencem a esta Igreja. Este caráter público da santa eucaristia se exprime no fato de que cada celebração da Santa Missa é ultimamente ligada ao bispo enquanto membro do colégio episcopal responsável por uma determinada Igreja local. A celebração da pequena comunidade, regulada pelos Livros litúrgicos, que devem ser seguidos fielmente, e com as particularidades aprovadas nos Estatutos do Caminho, tem a tarefa de ajudar aqueles que percorrem o itinerário neocatecumenal a perceber a graça de estar inserido no mistério salvífico de Cristo. Ao mesmo tempo, o progressivo amadurecimento na fé do indivíduo e da pequena comunidade deve favorecer a sua inserção na vida da grande comunidade eclesial que encontra na celebração litúrgica da paróquia, na qual atual o neocatecumenato, a sua forma ordinária. Mas mesmo durante o Caminho, é importante não se separar da comunidade paroquial exatamente na celebração da liturgia, verdadeiro local de unidade de todos, onde o Senhor nos abraça nos diversos estados da maturidade espiritual e nos torna um só corpo. (...)
(Destaquei)

O que quiz dizer o Papa com isso? O PAPA BENTO XVI disse que a Santa Missa deve ser aberta, e não fechada e exclusiva como o Caminho Neocatecumenal costuma fazer. A Missa deve ser com a comunidade paroquial, e não separada. Afinal, é por meio dela que se estabelece a unidade na Igreja.

Aí vem um engraçadinho que diz: O Papa deu uma lambada no Neocatecumenato!!!

Não jovem padawan, eu discordo desse pensamento. Há ressalvas ao Caminho, sem dúvida, mas em vez de ler a coisa de forma tão restrita assim, que tal abrir o leque??? Que tal ver que estas palavras servem não só para o Caminho Neocatecumenal, mas sim para TODOS os movimentos da Igreja???

Para mim a mensagem foi clara: teu carisma vem de Deus, é lindo, uma grande obra para a mundo e para a Igreja, mas não significa que a liturgia deva ser adequada a ele.

Meu caros, seu movimento/grupo/vocação/comunidade/etc. está DENTRO da Igreja Católica, ou seja, faz parte da mesma. E portanto, como sinal de unidade deve seguir suas normas ... concordando com elas ou não. Sobre isso eu já escrevi AQUI, AQUI e AQUI.

Vamos lembrar o que diz a Instrução Redemptionis Sacramentum:

114. «Nas Missas dominicais da paróquia, como ‘comunidade eucarística’, é normal que se encontrem os grupos, movimentos, associações e as pequenas comunidades religiosas presentes nela». Embora é lícito celebrar a Missa, de acordo com as normas do direito, para grupos particulares, estes grupos, de nenhuma maneira, estão isentos de observar fielmente as normas litúrgicas.
(Destaquei)


Claro que sempre tem gente que pergunta: Mas o que pode e o que não pode???A resposta é bem simples: Está previsto em algum livro litúrgico? Não?!? Então não pode. Se partirmos dessa premissa não erraremos. Ou na dúvida, busque como se celebra a Santa Missa no Vaticano ... esta é a fonte, este deve ser o exemplo. E se você acha que as missas no Vaticano são chatas ... olha, posso dizer que a sua concepção de liturgia está BEM errada.


Por isso, reitero algo que já disse em outro texto: Não existe liturgia da Opus Dei, dos Focolares, do Regnum Christi, da Renovação Carismática Católica, da Comunidade Canção Nova, da Comunidade Católica Shalom. Não existe liturgia de acordo com o carisma das diversas e belas expressões dentro da Igreja Católica. Existe apenas uma Liturgia, que todos devem seguir. TODOS!!!
 
E hoje fica mais claro ainda que não é porque a Santa Sé deu ao seu movimento/comunidade/vocação o Reconhecimento Pontifício, que significa que ele pode ter sua própria liturgia. Se não aprenderam isso até agora, espero que aprendam a partir das palavras do Papa Bento XVI ao Caminho Neocatecumenal.


Que Nossa Senhora interceda a Deus para que possamos aprender o valor da Sagrada Liturgia.


_____________________________________
Fica autorizada a reprodução integral deste post, desde que citada a fonte conforme texto a seguir:
BRANDALISE, André Luiz de Oliveira, Aprenda com o Caminho Neocatecumenal, publicado em 29/02/12 no blog “André Brandalise” - http://alobrandalise.blogspot.com/2012/02/aprenda-com-o-caminho-neocatecumenal.html

8 comentários:

  1. Não estou bem certo se as celebrações aprovadas são as entregas, dado que elas são, sim, litúrgicas. O RICA é um livro litúrgico, aliás, uma separata de um livro litúrgico, o Rituale Romanum.

    Penso que as celebrações aprovadas são inspiradas pelo RICA - dado que seu uso não é obrigatório -, mas não o próprio.

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  2. Meu caro, eu esperei para fazer este texto aguardando a interpretação de do decreto de pessoas como Dom Antonio Keller. Sobre o que foi aprovado tirei de interpretação.

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  3. Sim, sei disso. Mas mantenho minha incerteza de que seja, de fato, o próprio RICA ou "celebrações piedosas" BASEADAS no RICA.

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  4. Parabéns pelo texto, muito esclarecedor.
    Desde que o Papa pediu pela primeira vez, o Caminho fez as mudanças pedidas, como a celebração da missa com a paróquia e não de forma "isolada" como antigamente.
    Também entendo como uma lição a outros movimentos. Muitas vezes, vejo paróquias ligadas a RCC que, simplesmente, ignoram os tempos litúrgicos. Aí vemos coisas do tipo: cantar aleluia em plena quaresma e outras atitudes que contrariam a liturgia da Igreja.

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  5. Adorei!
    Participo do Neocatecumenato a 10 ano e posso dizer que, desde que entrei em uma comunidade muita coisa mudou em virtude das correções da própria Igreja. E eu espero que  o Santo Padre continue corrigindo sempre que se deparar com algo errado e continue nos guiando.

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  6. Nossa... o caminho foi o que melhor aconteceu na minha vida...
    O padre que está na foto com as meninas, hoje está na minha paróquia em Cajamar-SP.
    Amo o caminho e amo a história que Deus tem me conduzido.

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  7. Meu caro amigo,
    Li esse texto depois de quatro anos de sua publicação, e gostaria de fazer alguns comentários.

    1- O Caminho Neocatecumenal é uma realidade eclesial AD ETERNUM. Sim, quando a evangelização e a educação permanente na fé não forem necessários para a Igreja. Enquanto isso, o Caminho continuará existindo sempre em respeito e obediência ao Santo Padre.
    2- A comparação com o movimento Sillon é injusto, tendo em vista que ele foi extinto por causa de heresias e de ações erradas dos membros. O Neocatecumento teve o seu diretório catequético estudado, modificado e revisado pela Santa Sé por 30 anos. Todos os catequistas do mundo seguem esse diretório, logo, não há como ensinarem heresias no movimento pois se segue um documento elaborado pelo Vaticano. Não há nenhuma possibilidade do Neocatecumenato ser extinto como o Sillon
    3- Sobre a Liturgia, faço questão de comentar sobre cada uma das particularidades:
    a) Monição antes de cada leitura: Foi expressamente autorizado pela Santa Sé na aprovação dos estatutos. Leia o fim fazendo anotações canonicas sobre o mesmo: http://www.camminoneocatecumenale.it/new/default.asp?lang=pt&page=statuto08_4
    b) Ressonância dos fieis na Liturgia da Palavra: Em 'Mysterium Fidei', São João Paulo II diz que na Missa é permitido fazer testemunhos e partilha em ocasiões especificas. Creio que isso pode se aplicar as celebrações eucarísticas do Caminho
    c) Abraço da Paz antes da apresentação das ofertas: Expressamente autorizado pela Santa Sé
    d) Orações Eucarísticas cantadas pelo presidente da celebração: A Igreja permite e aconselha que se faça isso
    e) Comunhão sob duas espécies: Expressamente autorizado pela Santa Sé
    f) Eucaristia com pão azimo: Na Missa, pode-se utilizar qualquer pão sem fermento.

    Precisa mudar algo na prática litúrgica do Caminho? Sou obrigada a dizer que talvez, sim, porém não é nada muito grande ou que faça diferença na celebração em si.

    Haveriam novas modificações nas celebrações do Caminho, porém o Papa Francisco pediu que tais modificaçoes nao fossem feitas. Entao durante seu pontificado, creio que a pratica litúrgica segue sem mudanças.

    É isso
    Feliz Natal
    Até mais

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  8. Agradeço seu comentário, e faço os meus sobre o seu de acordo com os pontos levantados (numeração correspondente):

    1. Que assim seja.

    2. Não houve comparação com o Sillon, apenas a lembrança de que o reconhecimento pontifício pode ser retirado pela Santa Sé, como já ocorreu antes. Este alerta é importante porque em alguns movimentos já vi pessoas dizendo que o reconhecimento pontifício é eterno, o que não é verdade. Se o movimento não fizer besteiras, não terá problemas, o que eu acredito que será o caso do Neocatecumenato.

    3. Sobre os aspectos litúrgicos, lembro que uns 3 anos atrás eu fiz uma pesquisa diante de uma discussão que vi em um grupo no facebook, e buscando as declarações da Santa Sé sobre o assunto, vi que algumas práticas teriam sido autorizadas inicialmente mas depois tiveram a autorização revogada. Infelizmente não guardei os links sobre isso, uma pena.

    A minha posição sobre o reconhecimento pontifício do Neocatecumenato é o mesmo em relação a todos os outros: Roma locuta, causa finita. Conheço pessoas que tem muita raiva deste movimento, o que eu não tenho. Posso não concordar com algumas coisas e ter grandes divergências sobre a celebração litúrgica, mas não sou eu quem decide.

    Conheço pessoas do movimento que tiveram suas vidas transformadas em razão de sua adesão, como vi em diversas outras expressões dentro da Igreja, então digo que o importante é que todos se mantenham no caminho escolhido por Deus.

    Um abraço e Feliz Natal.

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