sábado, 9 de novembro de 2013

Nós precisamos de heróis

Estou em uma saga com a minha esposa assistindo a sequência de filmes da série Star Trek, e eu me emociono toda vez que inicia a apresentação das viagens da Enterprise, chegando os meus olhos a encher de lágrimas. E eu fiquei me perguntando o porquê disso.

Pensando sobre o assunto eu cheguei à conclusão de que é por uma necessidade que temos de ter heróis, aqueles que são mais do que somos (com superpoderes ou não), que muitas vezes nos impulsionam a ser melhores, a almejar mais, a alcançar o que nos parece inalcançável, que nos ensinam sobre esperança, sobre lutar pelo que é correto. Em Star Trek eu vejo muito disso para mim, mas não só ali no espaço.

Algumas pessoas já sabem, mas acho interessante colocar neste contexto. A primeira e maior influência que eu tive para me tornar advogado foi o personagem Matthew Murdock (Demolidor). Quando criança eu lia as HQs e queria ser como ele, queria fazer justiça como o advogado, lutar pelo que é correto como ele fazia, mantendo sua honra, não se vendendo. Claro que ser o Demolidor o ajudava muito quando a justiça "falhava", e ainda que gostasse muito das duas figuras, era o Murdock que me atraía mais. Era como se ele me pegasse pelas mãos e desde pequeno já me ensinasse como deveria fazer.

Sempre vai ter gente que vai dizer que isso é besteira, é coisa de criança e que um adulto não deveria ligar para esse tipo de coisa, que na verdade deveria ver que o mundo é cruel e vai te comer vivo se você não deixar essas coisas de lado.

Para o blog Projeções de Fé, eu escrevi um texto sobre o filme A Origem dos Guardiões, e citei um trecho de um livro de Chesterton sobre esses "contos de fadas":
(...) Contos de fada, pois, não são responsáveis por levar às crianças medo, ou qualquer dos contornos do medo; contos de fada não dão à criança a ideia do mal ou do feio; isso já está nela, porque já está no mundo. Contos de fada não dão à criança sua primeira noção de bicho-papão. O que os contos de fada lhe dão é sua primeira ideia clara da possível derrota do monstro. O bebê conhece o dragão em seu íntimo desde o momento em que sobreveio a imaginação. O que o conto de fada lhe proporciona é um São Jorge para matar o dragão. O que o conto de fada faz é exatamente isso: habitua-o, por uma série de imagens claras, à ideia de que esses terrores ilimitados têm um limite, de que esses inimigos sem forma têm inimigos nos cavaleiros de Deus, de que há algo no universo mais místico que a escuridão e mais forte que o medo. (...)
(CHESTERTON, G.K. "Tremendous Trifles", XVII: "The Red Angel")
Esta é função dos heróis em nossas vidas. Nos inspirar, nos ensinar, nos dar esperança e coragem, para enfrentar as dificuldades mesmo tendo limitações ou mesmo se o oponente for alguém maior e mais poderoso.

Nossos heróis não precisam ser apenas de HQs ou desenhos, mas também de filmes, livros, música, personalidades da política, do entretenimento, do ciência, do mundo, da nossa casa, de qualquer lugar, fictício ou não, popular ou não.

Eu tenho vários heróis, diversas pessoas me inspiram e de maneiras diferentes, mas como já disse no texto em que indiquei o filme Les Misérables, Jean Valjean é o meu maior herói. Gosto muito de tantos super-heróis (outros nem tão super assim) como Batman e Demolidor, e personagens maravilhosamente criados como Severo Snape (Harry Potter - livros) ou Coringa (filme Batman - Dark Night), mas Jean Valjean representa muito do homem que quero ser: aquele que mesmo diante de erros e culpas do passado, luta por um mundo melhor não para si, mas para aqueles que ama e que estão à sua volta.

O que dizer também de Eric Clapton, um músico fantástico e que tinha a minha admiração quase somente pelo seu talento musical, mas quando li sua autobiografia, vi o homem se despir de toda a sua grandeza artística e mostrar seus erros (e não foram poucos), e ao mesmo tempo mostrar como superou seus problemas e tem buscado ser uma pessoa melhor. É um exemplo de superação de um homem viciado em drogas e bebidas, que usava as mulheres como objetos, que sofreu com a perda de seu filho, e que hoje trabalha para auxiliar os viciados, casou-se e diz abertamente que ama e respeita sua esposa, e mesmo não tendo o exemplo da figura paterna em sua casa, decidiu ser um bom pai.

Na religião muitos podem olhar para a vida de alguns nomes e tê-los como heróis por diversos motivos, seja pelo exemplo de vida, por atos ou palavras (isso sem entrar no aspecto espiritual). Pessoas como Madre Tereza de Calcutá, que largou tudo o que tinha pelo chamado de Deus para auxiliar os necessitados. Pessoas como o Beato Papa João Paulo II, que durante sua vida enfrentou nazismo e comunismo, encarou a morte de frente pela bala e pela doença, e não largou a Deus e ao seu chamado. Pessoas como Santo Agostinho que teve a coragem de dizer a Deus: "Tarde Te amei, ó beleza tão antiga e tão nova" (estas palavras mexem comigo).

Nesta semana o pessoal do Jovem Nerd publicou um vídeo sobre as pessoas que os inspiram (assistam AQUI), e com certeza me levou a pensar em tantas pessoas que me inspiram, fictícios ou não, meus heróis. E no final das contas vi que o desejo de todos, o meu desejo pelo menos, é ser um herói pelo menos um dia. Alguém que sirva de exemplo para outras pessoas, não pela necessidade do reconhecimento, mas pelos seus atos, suas palavras, sua vida. Ser alguém que de alguma forma faça a diferença.

E ao som de David Bowie e algumas imagens de filmes, vou continuar desejando ser herói pelo menos um dia ...

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Fica autorizada a reprodução integral deste post, desde que citada a fonte conforme texto a seguir:
BRANDALISE, André Luiz de Oliveira, Nós precisamos de heróis, publicado em 09/11/13 no blog “André Brandalise” - http://alobrandalise.blogspot.com/2013/11/nos-precisamos-de-herois.html

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