Quando em 2004 encerrou a temporada nos cinemas do filme O Senhor dos
Anéis: O Retorno do Rei (originalmente lançado em dezembro/2003) e os fãs das
obras de Tolkien (tanto dos livros quanto dos filmes) sentiram-se perdidos. Não
havia mais a expectativa do lançamento no ano seguinte de novos filmes das
aventuras na Terra Média.
Mesmo o boato da adaptação do livro O Hobbit para os cinemas não se
passava de um sonho distante. A MGM era a detentora dos direitos de
distribuição do filme, e o grupo Warner Bros. (responsável pela produção e
distribuição da saga cinematográfica O Senhor dos Anéis – de agora em diante
chamada de SdA) tentou comprar esses direitos, mas os valores eram
demasiadamente altos e os fãs já estavam se conformando que não veriam mais o
universo criado por J.R.R. Tolkien nos cinemas. O filme O Hobbit passou a ser
apenas um sussurro esperançoso nos corações de fãs saudosos.
Parafraseando (de forma reversa) as palavras de Galadriel no início do filme
O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (“E algumas coisas
que não deviam ser esquecidas, se perderam. A história se tornou lenda, a lenda se tornou mito e durante 2.500 anos o Anel ficou totalmente esquecido”): Algumas
coisas que foram esquecidas, foram retomadas. O sussurro se tornou boato, o boato
se tornou negociação e depois de 5 anos a produção do filme O Hobbit virou uma
realidade.
Os
fãs tolkenianos tiveram seus corações reaquecidos com a notícia, como se um
dragão adormecido acordasse e tivesse jorrado fogo. Inicia-se uma jornada
inesperada e toda a movimentação em torno do filme gerava uma expectativa cada
vez maior: qual ator faria o papel de Bilbo Bolseiro? Atores como Ian McKellen
(Gandalf) e Hugo Weaving (Elrond) retornariam aos seus papéis? Por que Peter
Jackson vai deixar a direção com Guilhermo Del Toro? O filme será infantilizado
(como no livro), ou seguirá a linha de SdA?
Muitas
eram as perguntas e os fãs se viam como no encontro de Bilbo e Gollum nos
subterrâneos das Montanhas Sombrias: charadas na escuridão.
De
um filme passaram a ser dois. De dois, passou-se a três. TRÊS!!! Ao mesmo tempo
que os fãs ficaram maravilhados (afinal seriam mais três novos filmes sobre a
obra de Tolkien), começaram a se perguntar se haveria enredo suficiente para
três produções.
Pois
bem, ontem (13/12/12) eu fui ao cinema e pude conferir o resultado da produção.
Novamente fui jogado no Condado e outros locais da Terra Média. Várias dúvidas e
anseios foram aplacados, e outras expectativas foram criadas.
ATENÇÃO: a partir daqui o texto terá leves pitadas de spoilers.
Continue por sua conta e risco.
Já
há algum tempo eu havia comentado que achava que a contratação de Martin
Freeman para o papel de Bilbo Bolseiro foi uma grande escolha, pois ele tinha
cara e jeito de hobbit. Desde sua atuação em O Guia do Mochileiro das Galáxias
já tinha ficado com esta impressão, que foi reforçada quando vi os trailers.
Vendo o filme pude ter esta certeza e acredito que se fizerem uma busca em seus
ancestrais vão encontrar algum Bolseiro, Tûk, Brandebuck, Gamgee, etc.. Ele é
um hobbit nato, está em seus genes.
Sempre
defendi que o filme não poderia ter uma linha infantilizada, ainda que o livro
tenha esta característica. Afinal estamos tratando do mesmo universo dos três filmes
anteriores, em que de infantil não se tem nada. Mas Peter Jackson novamente nos
surpreende e faz um misto, mostrando todo o ambiente sério e já conhecido de SdA,
com citações (até mesmo literais) do livro. Não ficou infantil como o livro
(mesmo com as aparições de Radagast), mas se mostrou que na Terra Média tem
humor e que é contagiante. Mesmo Gandalf que muitas vezes é sisudo e nada
simpático se tornou um senhor sorridente (nem sempre, é claro). O mesmo se pode
dizer de Elrond. De forma alguma se estragou o filme com esta situação, e para
mim foi uma grande e ótima surpresa.
Muitos
de nós (os fãs) reclamamos sobre a caracterização de alguns dos anões, pois não
tinham cara de anão (ainda mais se comparados a Gimli). Mas isso não afetou o
filme de forma alguma. Claro, quando se olha para Fili e Kili ainda se tem a
impressão de que se esqueceu de fazer a maquiagem de anão neles, mas o mesmo
não se pode dizer sobre Thorin Escudo-de-Carvalho, em especial pela construção
de seu personagem. O espectador não só passa a entender a motivação do líder
dos anões, quanto chega a lhe dar razão ... e olha que estamos falando de um
anão orgulhoso e muitas vezes arrogante.
Já
vi alguns comentários no sentido de que o filme tem um início lento, mas devo
discordar. Temos que lembrar que estamos apresentando e construindo novos
personagens (ou já conhecidos mas com novas características), e isso precisa de
um tempo. Como poderemos conhecer 13 novos anões se sempre estiverem correndo e
lutando contra orcs? O mesmo vale para Bilbo Bolseiro e tantos outros. Temos a mesma situação da saga de SdA, em que o primeiro filme foi "mais parado", e no final temos que analisar os três filmes juntos.
Uma coisa que me chamou a atenção foi a imagem. Assisti o filme com 48 fps (48 quadros por segundo), e mesmo sendo 3D tive uma nitidez de imagem como nunca vi antes no cinema, quase podendo se contar todas as rugas de Ganfalf. No entanto, a imagem ficou parecendo de novela da Globo. Não parecia mais ser filme, de forma alguma. Lógico que isso vai gerar muito debate e acredito que este tipo de filmagem vai se tornar uma tendência (assim como o 3D se tornou com o lançamento de Avatar) e teremos que nos acostumar, mas ainda não é algo que eu tenha gostado. Não que tenha desgostado (muito), mas talvez seja uma questão de adaptação ... ou não.
DE QUALQUER FORMA, gostei muito do filme e já estou na grande expectativa quanto aos demais. E recomendo que se possível vejam no cinema.
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BRANDALISE, André Luiz de Oliveira, Uma aventura na Terra Média? Não, “A” aventura!, publicado em 14/12/12 no blog “André Brandalise” - http://alobrandalise.blogspot.com/2012/12/uma-aventura-na-terra-media-nao-aventura.html
É, a Terra-média não é mais a mesma daquela que vimos em SdA, técnica e roteiristicamente falando.
ResponderExcluirTecnicamente, a TM me pareceu extremamente artificial, seja pelo exagero de personagens e cenários digitais, seja por esse 48pfs que também não me agradou (apesar de eu ainda não saber se a culpa é realmente dele).
E sobre o roteiro, é bem mais leve e divertido, como você já disse. E isso não é defeito. Pelo contrário, eu esperava que assim fosse e torcia muito para que o estilo brincalhão e descontraído das páginas d'O Hobbit se refletisse nos filmes.
Pena que essa nitidamente comercial de se fazer três filmes tenha destruído o roteiro, fazendo da aventura de Bilbo um punhado de cenas vazias e desnecessárias, que muito me lembraram King Kong.
O que é fiel (e tem muita coisa fiel ao livro) ficou muito bom. O que é adaptado (como Azog, por exemplo) é fácil de engolir. Mas o que é invenção ou pura ação, destruiu mais de uma hora do filme.
É esperar pela melhora nos próximos!