sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Uma aventura na Terra Média? Não, “A” aventura!



Quando em 2004 encerrou a temporada nos cinemas do filme O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (originalmente lançado em dezembro/2003) e os fãs das obras de Tolkien (tanto dos livros quanto dos filmes) sentiram-se perdidos. Não havia mais a expectativa do lançamento no ano seguinte de novos filmes das aventuras na Terra Média.

Mesmo o boato da adaptação do livro O Hobbit para os cinemas não se passava de um sonho distante. A MGM era a detentora dos direitos de distribuição do filme, e o grupo Warner Bros. (responsável pela produção e distribuição da saga cinematográfica O Senhor dos Anéis – de agora em diante chamada de SdA) tentou comprar esses direitos, mas os valores eram demasiadamente altos e os fãs já estavam se conformando que não veriam mais o universo criado por J.R.R. Tolkien nos cinemas. O filme O Hobbit passou a ser apenas um sussurro esperançoso nos corações de fãs saudosos.

Parafraseando (de forma reversa) as palavras de Galadriel no início do filme O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (“E algumas coisas que não deviam ser esquecidas, se perderam. A história se tornou lenda, a lenda se tornou mito e durante 2.500 anos o Anel ficou totalmente esquecido”): Algumas coisas que foram esquecidas, foram retomadas. O sussurro se tornou boato, o boato se tornou negociação e depois de 5 anos a produção do filme O Hobbit virou uma realidade.

Os fãs tolkenianos tiveram seus corações reaquecidos com a notícia, como se um dragão adormecido acordasse e tivesse jorrado fogo. Inicia-se uma jornada inesperada e toda a movimentação em torno do filme gerava uma expectativa cada vez maior: qual ator faria o papel de Bilbo Bolseiro? Atores como Ian McKellen (Gandalf) e Hugo Weaving (Elrond) retornariam aos seus papéis? Por que Peter Jackson vai deixar a direção com Guilhermo Del Toro? O filme será infantilizado (como no livro), ou seguirá a linha de SdA?

Muitas eram as perguntas e os fãs se viam como no encontro de Bilbo e Gollum nos subterrâneos das Montanhas Sombrias: charadas na escuridão.

De um filme passaram a ser dois. De dois, passou-se a três. TRÊS!!! Ao mesmo tempo que os fãs ficaram maravilhados (afinal seriam mais três novos filmes sobre a obra de Tolkien), começaram a se perguntar se haveria enredo suficiente para três produções.

Pois bem, ontem (13/12/12) eu fui ao cinema e pude conferir o resultado da produção. Novamente fui jogado no Condado e outros locais da Terra Média. Várias dúvidas e anseios foram aplacados, e outras expectativas foram criadas.

ATENÇÃO: a partir daqui o texto terá leves pitadas de spoilers. Continue por sua conta e risco.

Já há algum tempo eu havia comentado que achava que a contratação de Martin Freeman para o papel de Bilbo Bolseiro foi uma grande escolha, pois ele tinha cara e jeito de hobbit. Desde sua atuação em O Guia do Mochileiro das Galáxias já tinha ficado com esta impressão, que foi reforçada quando vi os trailers. Vendo o filme pude ter esta certeza e acredito que se fizerem uma busca em seus ancestrais vão encontrar algum Bolseiro, Tûk, Brandebuck, Gamgee, etc.. Ele é um hobbit nato, está em seus genes.

Sempre defendi que o filme não poderia ter uma linha infantilizada, ainda que o livro tenha esta característica. Afinal estamos tratando do mesmo universo dos três filmes anteriores, em que de infantil não se tem nada. Mas Peter Jackson novamente nos surpreende e faz um misto, mostrando todo o ambiente sério e já conhecido de SdA, com citações (até mesmo literais) do livro. Não ficou infantil como o livro (mesmo com as aparições de Radagast), mas se mostrou que na Terra Média tem humor e que é contagiante. Mesmo Gandalf que muitas vezes é sisudo e nada simpático se tornou um senhor sorridente (nem sempre, é claro). O mesmo se pode dizer de Elrond. De forma alguma se estragou o filme com esta situação, e para mim foi uma grande e ótima surpresa.

Muitos de nós (os fãs) reclamamos sobre a caracterização de alguns dos anões, pois não tinham cara de anão (ainda mais se comparados a Gimli). Mas isso não afetou o filme de forma alguma. Claro, quando se olha para Fili e Kili ainda se tem a impressão de que se esqueceu de fazer a maquiagem de anão neles, mas o mesmo não se pode dizer sobre Thorin Escudo-de-Carvalho, em especial pela construção de seu personagem. O espectador não só passa a entender a motivação do líder dos anões, quanto chega a lhe dar razão ... e olha que estamos falando de um anão orgulhoso e muitas vezes arrogante.

Já vi alguns comentários no sentido de que o filme tem um início lento, mas devo discordar. Temos que lembrar que estamos apresentando e construindo novos personagens (ou já conhecidos mas com novas características), e isso precisa de um tempo. Como poderemos conhecer 13 novos anões se sempre estiverem correndo e lutando contra orcs? O mesmo vale para Bilbo Bolseiro e tantos outros. Temos a mesma situação da saga de SdA, em que o primeiro filme foi "mais parado", e no final temos que analisar os três filmes juntos.

Uma coisa que me chamou a atenção foi a imagem. Assisti o filme com 48 fps (48 quadros por segundo), e mesmo sendo 3D tive uma nitidez de imagem como nunca vi antes no cinema, quase podendo se contar todas as rugas de Ganfalf. No entanto, a imagem ficou parecendo de novela da Globo. Não parecia mais ser filme, de forma alguma. Lógico que isso vai gerar muito debate e acredito que este tipo de filmagem vai se tornar uma tendência (assim como o 3D se tornou com o lançamento de Avatar) e teremos que nos acostumar, mas ainda não é algo que eu tenha gostado. Não que tenha desgostado (muito), mas talvez seja uma questão de adaptação ... ou não.

DE QUALQUER FORMA, gostei muito do filme e já estou na grande expectativa quanto aos demais. E recomendo que se possível vejam no cinema.
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Fica autorizada a reprodução integral deste post, desde que citada a fonte conforme texto a seguir:
BRANDALISE, André Luiz de Oliveira, Uma aventura na Terra Média? Não, “A” aventura!, publicado em 14/12/12 no blog “André Brandalise” - http://alobrandalise.blogspot.com/2012/12/uma-aventura-na-terra-media-nao-aventura.html

Um comentário:

  1. É, a Terra-média não é mais a mesma daquela que vimos em SdA, técnica e roteiristicamente falando.
    Tecnicamente, a TM me pareceu extremamente artificial, seja pelo exagero de personagens e cenários digitais, seja por esse 48pfs que também não me agradou (apesar de eu ainda não saber se a culpa é realmente dele).
    E sobre o roteiro, é bem mais leve e divertido, como você já disse. E isso não é defeito. Pelo contrário, eu esperava que assim fosse e torcia muito para que o estilo brincalhão e descontraído das páginas d'O Hobbit se refletisse nos filmes.


    Pena que essa nitidamente comercial de se fazer três filmes tenha destruído o roteiro, fazendo da aventura de Bilbo um punhado de cenas vazias e desnecessárias, que muito me lembraram King Kong.


    O que é fiel (e tem muita coisa fiel ao livro) ficou muito bom. O que é adaptado (como Azog, por exemplo) é fácil de engolir. Mas o que é invenção ou pura ação, destruiu mais de uma hora do filme.


    É esperar pela melhora nos próximos!

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