segunda-feira, 17 de setembro de 2012

TOLKIEN WEEK - uma visão sobre o casamento


Dentro do especial TOLKIEN WEEK, vou trazer uma belíssima carta escrita do J.R.R. Tolkien escrita e enviada ao seu filho Michael Tolkien, em que trata sobre o casamento. Vale a pena a leitura até o final.

Esta carta é a de nº 43 do livro As Cartas de J.R.R. Tolkien, foi publicado no Brasil pela Editora Arte & Letra, traduzido por Gabriel O. Brum (da Equipe Valinor) e pode ser adquirido neste LINK.

43. De uma carta para Michael Tolkien 6-8 de Março de 1941
[Sobre a questão do casamento e das relações entre os sexos.]

Os relacionamentos entre um homem e uma mulher podem ser puramente físicos (na verdade não podem, é claro, mas quero dizer que ele pode recusar-se a levar outras coisas em consideração, para grande dano na sua alma (e corpo) e das delas); ou "amigáveis"; ou ele pode ser "amante" (empenhando e combinando todos os seus afetos e poderes de mente e corpo em uma emoção complexa poderosamente colorida e energizada pelo "sexo"). Esta é um mundo decaído. A desarticulação do instinto sexual é um dos principais sintomas da Queda. O mundo foi "ido de mal a pior" ao longo das eras. As várias formas sociais mudam, e cada novo modo tem os seus perigos especiais: mas o "duro espirito da concupiscência" vem caminhando por todas as ruas, e se instalou em todas as casas, desde que Adão caiu. Deixaremos de lado os resultados "imorais". Para esses você não deseja ser arrastado. À renúncia você não tem nenhum chamado. "Amizade", então? Neste mundo decaído, a "amizade" que deveria ser possível entre todos os seres humanos é praticamente impossível entre um homem e uma mulher. O diabo é incessantemente engenhoso, e o sexo é seu assunto favorito. Ele é da mesma forma bom tanto em cativá-lo através de generosos motivos românticos ou ternos, quanto através daqueles mais vis ou mais animais. Essa "amizade" tem sido tentada com frequência: um dos dois lados quase sempre falha. Mais tarde na vida, quando o sexo esfria, tal amizade pode ser possível. Ela pode ocorrer entre santos. para as pessoas comuns ela só pode ocorrer raramente: duas almas que realmente possuam uma afinidade essencialmente espiritual e mental podem acidentalmente residir em um corpo masculino e em um feminino e ainda assim podem desejar e alcançar uma "amizade" totalmente independente do sexo. Porém, ninguém pode contar com isso. O outro parceiro(a) irá desapontá-la(lo), é quase certo, ao se "apaixonar". Mas um rapaz realmente não quer (via de regra) "amizade", mesmo que ele diga que queira. Existem muitos rapazes (via de regra). Ele quer amor: inocente, e talvez ainda irresponsável. Ai! Ai! que sempre o amor foi pecado!, como diz Chaucer. Então, se ele for cristão e estiver ciente que há tal coisa como o pecado, ele desejará saber o que fazer a respeito disso.

Há, na nossa cultura ocidental, a romântica tradição cavalheiresca ainda forte, apesar de que, como um produto da cristandade (porém de modo algum o mesmo que a ética cristã), os tempos são hostis a ela. Tal tradição idealiza o "amor" – e, ademais, ele pode ser muito bom, uma vez que abrange muito mais do que prazer físico e desfruta, se não da pureza, pelo menos de fidelidade, e abnegação, "serviço", cortesia, honra e coragem. Sua fraqueza, sem dúvida, é que ele começou como um jogo artificial de cortejo, uma maneira de desfrutar do amor por si só sem referência (e, de fato, contrário) ao matrimônio. O seu centro não era Deus, mas Divindades imaginárias, o Amor e a Dama. Ele tende ainda a tornar a Dama uma espécie de divindade e estrela guia – do antiquado "sua divindade" = a mulher que ele ama – o objeto ou a razão de uma conduta nobre. Isso é falso, é claro, e na melhor das hipóteses fictício. A mulher é outro ser humano decaído com uma alma em perigo. Mas, combinado e harmonizado com a religião (o que era há muito tempo, quando produziu boa parte daquela bela devoção à Nossa Senhora, que foi o modo de Deus de refinar em muito nossas grosseiras naturezas e emoções masculinas e também de aquecer e colorir a nossa dura e amarga religião), tal amor pode ser muito nobre. Ele produz então o que suponho que ainda seja sentido, entre aqueles que mantêm ainda que um vestígio de cristianismo, como o ideal mais alto de amor entre um homem e uma mulher. Porém, eu ainda acho que ele possui perigos. Ele não é totalmente completamente verdadeiro e não é perfeitamente "teocêntrico". Leva (ou, de qualquer maneira, levou no passado) o rapaz a não ver mulheres como elas realmente são, como companheiras de um naufrágio, e não como estrelas guias. (Um resultado observado é que na verdade ele faz com que o rapaz torne-se cínico.) Leva-o a esquecer os desejos, necessidades e tentações delas. Impõe noções exageradas de "amor verdadeiro", como um fogo vindo de fora, uma exaltação permanente, não-relacionado à idade, à gestação e à vida simples, e não-relacionado à vontade e ao propósito. (Um resultado disso é fazer com que os jovens - homens e mulheres - procurem por um "amor" que os manterá sempre bem e aquecidos em um mundo frio, sem qualquer esforço da parte deles; e o romântico incurável continua procurando até mesmo na sordidez das cortes de divórcio).

As mulheres realmente não têm parte em tudo isto, embora possam usar a linguagem do amor romântico, visto que ela está tão entrelaçada em todos as nossas expressões idiomáticas. O impulso sexual torna as mulheres (naturalmente, quando não-mimadas, mas altruístas) muito solidárias e compreensivas, ou especialmente desejosas de assim o serem (ou de assim parecerem), e muito predispostas a ingressarem em todos os interesses, na medida do possível, de gravatas à religião, do jovem pelo qual estejam atraídas. Nenhuma intenção necessariamente de ludibriar - puro instinto: o instinto serviente de esposa, generosamente aquecido pelo desejo e um sangue jovem. Sob esse impulso, elas de fato podem alcançar com frequência um discernimento e compreensão extraordinários, até mesmo acerca de coisas que em outras circunstâncias estariam fora do seu âmbito natural: pois é o dom delas serem receptivas, estimuladas, fertilizadas (em muitos aspectos que não o físico) pelo homem. Todo professor sabe disso. O quão rápido uma mulher inteligente pode ser ensinada, captar as ideias dele, ver seu motivo – e como (com raras excepções) elas não conseguem ir além quando deixam a tutela dele, ou quando deixam de ter um interesse pessoal nele. Mas esse é o caminho natural delas para o amor. Antes que a jovem perceba onde está (e enquanto o jovem romântico, quando ele existe, ainda está suspirando), ela pode de fato "se apaixonar", o que para ela, uma jovem ainda pura, significa querer se tornar a mãe dos filhos do jovem, mesmo que esse desejo não esteja de modo algum claro ou explícito para ela. E então acontecerão coisas, e elas podem ser muito dolorosas e prejudiciais caso dêem errado, especialmente se o jovem quisesse apenas  uma estrela guia ou divindade temporária (até que fosse atrás de uma mais brilhante), e estivesse simplesmente desfrutando da lisonja da simpatia belamente temperada com um estímulo de sexo – tudo bastante inocente, é claro, e muito distante da "sedução".

Você pode encontrar na vida (como na literatura*) mulheres que são volúveis, caprichosas, ou mesmo puramente libertinas – não me refiro a um simples flerte, o treino para o combate real, mas às mulheres que são tolas demais até mesmo para levar o amor a sério, ou que são tão depravadas ao ponto de desfrutar as "conquistas", ou mesmo que apreciem causar dor – mas essas são anormalidades, embora falsos ensinamentos, uma má educação e costumes deturpados possam encorajá-las. Muito emboras as condições modernas tenham modificado as circunstâncias femininas, e o detalhe do que é considerado decoro, elas não modificaram o instinto natural. Um homem tem o trabalho de toda uma vida, uma carreira (e amigos homens), todos os quais podem (e o fazem, quando ele possui alguma coragem) sobreviver aos naufrágio do "amor". Uma mulher jovem, mesmo sendo "economicamente independente", como dizem agora (o que na verdade geralmente significa subserviência econômica a empregadores masculinos ao invés de subserviência a um pai ou a uma família), começa a pensar no "enxoval" e a sonhar com um lar quase que imediatamente. Se ela realmente se apaixonar, o navio naufragado pode de fato acabar nas rochas. De qualquer maneira, as mulheres são em geral muito menos românticas e mais práticas. Não se iluda com o fato de que elas são mais "sentimentais" no uso das palavras – mais espontâneas com "querido" e coisas do gênero. Elas não querem uma estrela guia. Elas podem idealizar um simples jovem como um herói, mas elas não precisam realmente de tal deslumbramento tanto para se apaixonarem como para permanecerem assim. Se elas possuem alguma ilusão, é a de que podem "remodelar" os homens. Elas aceitarão conscientemente um canalha e, mesmo quando a ilusão de reformá-lo mostra-se vã, continuarão a amá-lo. Elas são, é claro, muito mais realistas sobre a relação sexual. A não ser que sejam corrompidas por péssimos costumes, elas via de regra não falam de modo "obsceno"; não porque sejam mais puras do que os homens (elas não são), mas porque não acham isso engraçado. Conheci aquelas que aparentavam achar isso engraçado, mas é fingimento. Tais coisas podem lhes ser intrigantes, interessantes, atraentes (em boa parte atraentes demais): mas é um interesse natural honesto, sério e óbvio; onde está a graça?

Elas precisam, é claro, ser mais cuidadosas nas relações sexuais, no que diz respeito a todos os contraceptivos. Erros lhes causam danos física e socialmente (e matrimonialmente). Mas elas são instintivamente monogâmicas, quando não-corrompidas. Os homens não são. ... Não há por que fingir. Os homens simplesmente não o são, não por sua natureza animal. A monogamia (apesar que há muito venha sendo fundamental às nossas ideias herdadas) é para nós, homens, uma porção de ética "revelada", em concordância com a fé e não com a carne. Cada um de nós poderia gerar de forma saudável, por volta dos nossos 30 anos, algumas centenas de filhos e apreciar o processo. Brigham Young (acredito) era um homem feliz e saudável. este é um mundo decaído, e não há consonância entre os nossos corpos, mentes e almas.

Entretanto, a essência de um mundo decaído é que o melhor não pode ser alcançado através do livre divertimento, ou pelo que é chamado "auto-realização" (em geral um belo nome para auto-indulgência, completamente hostil à realização de outros aspectos da personalidade), mas pela negação, pelo sofrimento. A fidelidade no casamento cristão acarreta nisso: grande mortificação. Para um homem cristão não há saída. O casamento pode ajudar a santificar e direcionar os desejos sexuais dele ao objeto apropriado; a graça de tal casamento pode ajudá-lo na luta, mas a luta permanece. A graça não irá satisfazê-lo – tal como a fome pode pode ser mantida à distância com refeições regulares. Ela oferecerá tantas dificuldades à pureza própria própria desse estado quanto fornece facilidades. Homem algum, por mais que amasse verdadeiramente sua noiva quando jovem, viveu fiel a ela como uma esposa em mente e corpo sem um exercício consciente e deliberado da vontade, sem abnegação. Isso é dito a poucos – mesmo àqueles educados "na Igreja". Aqueles de fora parecem que raramente ouviram tal coisa. Quando o deslumbramento desaparece, ou simplesmente diminui, eles acham que cometeram um erro, e que a verdadeira alma gêmea ainda está para ser encontrada. A verdadeira alma gêmea com muita frequência mostra-se como sendo a próxima pessoa sexualmente atrativa que aparecer. Alguém com quem poderiam de fato ter casado de uma maneira muito proveitosa se ao menos –. Por isso o divórcio, para fornecer o "se ao menos". E, é claro, via de regra eles estão bastante certos: eles cometeram um erro. Apenas um homem muito sábio no fim da sua vida poderia fazer um julgamento seguro a respeito de com quem, entre todas as oportunidades possíveis, ele deveria ter casado na maneira mais proveitosa! Quase todos os casamentos, mesmo os felizes, são erros: no sentido de que quase certamente (em um mundo mais perfeito, ou mesmo com um pouco mais de cuidado neste mundo imperfeito) ambos os parceiros poderiam ter encontrado companheiros mais adequados. Mas a "verdadeira alma gêmea" é aquela com a qual você realmente está casado. Na verdade, você faz muito pouco ao escolher: a vida e as circunstâncias encarregam-se da maior parte (apesar de que, se há um Deus, esses devem ser Seus instrumentos e Suas aparências). É notório que, na realidade, os casamentos felizes são mais comuns quando a "escolha" feita pelos jovens é ainda mais limitada, pela autoridade dos pais ou da família, contanto que haja uma ética social de pura responsabilidade não-romântica e de fidelidade conjugal. Mas mesmo em países onde a tradição romântica até agora afetou os arranjos sociais a ponto de fazer as pessoas acreditarem que a escolha de um parceiro diz respeito unicamente aos jovens, apenas a mais rara das sortes junta o homem e a mulher que, de certo modo, são realmente "destinados" um ao outro e capazes de um enorme e esplêndido amor. A ideia ainda nos fascina, agarra-nos pelo pescoço: um grande número de poemas e histórias foi escrito sobre o tema, mais, provavelmente, do que o total de amores na vida real (mesmo assim, a maior dessas histórias não fala do casamento feliz de tais amantes, mas de sua trágica separação, como se mesmo nessa esfera o verdadeiramente grande e esplêndido neste mundo decaído esteja mais propício a ser alcançado pelo "fracasso" e pelo sofrimento). Em tal inevitável grande amor, frequentemente um amor à primeira vista, temos uma visão, suponho, do casamento como este deveria ser em um mundo não-decaído. Neste mundo decaído, temos como nossos únicos guias a prudência, a sabedoria (rara na juventude, tardia com a idade), um coração puro e fidelidade de vontade ...

Minha própria história é tão excepcional, tão errada e imprudente em quase todos os aspectos que fica difícil aconselhar prudência. Ainda assim, casos difíceis dão maus exemplos; e casos excepcionais nem sempre são bons guias para outros. pois o que é válido aqui é um pouco de autobiografia – nesta ocasião direcionada principalmente às questões da idade e das finanças.

J.R.R. Tolkien e Edith Tolkien, sua esposa
Apaixonei-me por sua mãe por volta dos 18 anos. De maneira muito genuína, como se mostrou – embora, é claro, falhas de caráter e temperamento tenham feito com que eu com frequência caísse abaixo do ideal com o qual eu havia começado. Sua mãe era mais velha do que eu e não era católica. Completamente lamentável, conforme vislumbrado por um guardião [1]. E isso foi de certa forma muito lamentável; e de certo modo muito ruim para mim. Estas coisas são cativantes e nervosamente exaustivas. Eu era um garoto inteligente lutando contras as dificuldades de se conseguir uma bolsa de estudos (muito necessária) em Oxford. As tensões combinadas quase causaram um colapso nervoso. Fracassei nos meus exames e (como anos mais tarde meu professor me contou) embora eu devesse ter conseguido uma boa bolsa, acabei apenas com uma bolsa parcial de £60 em Exeter: apenas o suficiente para começar (ajudado por meu querido e velho guardião), junto com uma bolsa de saída do colégio da mesma quantia. É claro, havia um lado de crédito, não visto tão facilmente pelo guardião. Eu era inteligente, mas não diligente ou concentrado em apenas uma única coisa; grande parte do meu fracasso foi devido simplesmente ao fato de não me esforçar (pelo menos não em literatura clássica) não porque eu estava apaixonado, mas porque eu estava estudando outra coisa: gótico e não sei mais o que [2]. Por ter uma criação romântica, fiz de um caso de menino-e-menina algo sério, e o tornei a fonte do emprenho. Fisicamente covarde pela natureza, passei de um coelhinho desprezado do segundo time da casa para capitão do time principal em duas temporadas. Todo esse tipo de coisa. Porém, surgiram problemas: tive de escolher entre desobedecer e magoar (ou enganar) um guardião que havia sido um pai para mim, mais do que a maioria dos pais verdadeiros, mas sem qualquer obrigação, e "desistir" do caso de amor até que eu completasse 21. Não me arrependo de minha decisão, embora ela tenha sido muito difícil para minha amada. Mas não foi minha culpa. Ela estava perfeitamente livre e sob nenhum voto a mim, e eu não teria reclamação (exceto de acordo com o código romântico irreal) se ela se tivesse casado com outra pessoa. Por quase três anos eu não vi ou escrevi à minha amada. Foi extremamente difícil, doloroso e amargo, especialmente no início. Os efeitos não foram completamente bons: voltei à leviandade e à negligência, e desperdicei boa parte do meu primeiro ano na Faculdade. Mas não acredito que qualquer outra coisa teria justificado um casamento com base em um romance de garoto; e provavelmente nada mais teria fortalecido suficientemente a vontade de conferir permanência a tal romance (por mais genuíno que fosse um caso de amor verdadeiro). Na noite do meu aniversário de 21 anos, escrevi novamente à sua mãe - 3 de janeiro de 1913. Em 8 de janeiro voltei com ela, e nos tornamos noivos, informando o fato a uma atônita família. esforcei-me e estudei mais (tarde demais para salvar o Bach [3] do desastre) – e então a guerra eclodiu no ano seguinte, enquanto eu ainda tinha um ano para cursar na faculdade. Naqueles dias os garotos se alistavam ou eram desprezados publicamente. Era um buraco desagradável para se estar, especialmente para um jovem com imaginação demais e pouca coragem física. Sem diploma; sem dinheiro; noiva. Suportei o opróbrio e as insinuações cada vez mais diretas dos parentes, fiquei acordado até mais tarde e consegui uma Primeira Classe no Exame Final em 1915. atrelado ao exército: julho de 1915. Considerei a situação intolerável e me casei em 22 de março. Podia ser encontrado atravessando o Canal (eu ainda tenho os versos que escrevi na ocasião!) [4] para a carnificina do Somme.

Edith e Tolkien
Pensa na sua mãe! No entanto, não creio agora por um momento sequer que ela estivesse fazendo algo mais do que lhe deveria ser pedido para fazer – não que isso diminua o valor do que foi feito. Eu era um rapaz jovem, com um bacharelado regular e capaz de escrever poesia, algumas libras minguadas por ano (£20-40) [5] e sem perspectivas, um Segundo Ten. seis dias por semana na infantaria, onde as chances de sobrevivência estavam severamente contra você (como um subalterno). Ela casou comigo em 1916 e John nasceu em 1917 (concebido e carregado durante o ano da fome de 1917 e da grande campanha U-boat) por volta da batalha de Cambrai, quando o fim da guerra parecia tão distante quanto agora. Vendi, e gastei para pagar a clínica de repouso, a última de minhas poucas ações sul-africanas, "meu patrimônio".

Da escuridão da minha vida, tão frustrada, coloco diante de você a única grande coisa para se amar sobre a terra: o Sagrado Sacramento. ... Nele você encontrará romance, glória, honra, fidelidade e o verdadeiro caminho de todos os teus amores sobre a terra; e, mais do que isso, a Morte: pelo paradoxo divino, que encerra a vida e exige a renúncia de tudo, e ainda assim pelo gosto (ou antigosto) somente do qual o que você procura em seus relacionamentos terrestres (amor, fidelidade, felicidade) pode ser mantido, ou aceitar outro aspecto da realidade, da permanência eterna, que todos os corações dos homens desejam.

* – A literatura tem sido (até o romance moderno) um negócio principalmente, e nela há muito sobre o "belo e falso". Isso, em geral, é uma calúnia. As mulheres são humanas e, portanto, capazes da perfídia. Mas dentro da família humana, comparadas com os homens, elas geral ou naturalmente não são as mais pérfidas. Muito pelo contrário. exceto pelo fato de que as mulheres são capazes de sucumbir se lhes for pedido para "esperarem" por um homem por tempo demais e enquanto a juventude (tão preciosa e necessária para uma futura mãe) passa rapidamente. Na verdade, não se deveria se pedir que esperassem.

[1] – Guardião de Tolkien. O Padre Francis Morgan desaprovava seu caso de amor clandestino com Edith Bratt.
[2] – Tolkien ficou empolgado nos dias de colégio ao descobrir a existência do idioma gótico; vide a carta nº 272.
[3] – Bacharelado em Letras Clássicas, no qual Tolkien recebeu uma Segunda Classe.
[4] – A verdadeira data da travessia do Canal feita por Tolkien com o seu batalhão foi 6 de junho de 1916. O poema a que ele se refere, datado "Étaples, Pas de Calais, Junho 1916", é intitulado "A Ilha Solitária", e possui o subtítulo "Para a Inglaterra"’, embora ele também esteja relacionado com a mitologia de O Silmarillion. O poema foi publicado no Leeds University Verse 1914-1924 ["Versos da Universidade de Leeds 1914-1924"] (Leeds, na Swan Press, 1924), p. 57.
[5] – Tolkien herdou uma pequena renda de seus pais, proveniente de ações em minas sul-africanas.

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